quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Um rastro nos sonhos




Deixo o barco que vem do além, caminhando pelo porto onde marujos dormem sob a fria lua do inverno. Morcegos batem asas refletindo a sombra e me saúdam. Não sou um anjo de força.



Olho ao redor procurando meus iguais, mas a lua não me é benevolente. As matas em redor reservam clareiras que agora nada valem, seus guardiães foram mortos à espada e fogo como em um ritual sanguinário. Atrevo-me pelo caminho de pedras ao longo de uma estrada para meu lar, meu retorno final é iminente apesar da dor.


Alta madrugada, a brisa fria do oceano me acompanhará até o dia amanhecer, quando a carruagem passa e corre até o lobo a alcançar. Não sei se sobrevivo a mais uma estrada, se resisto a mais ataques que me assaltem. Espero pelo senhor da luz e sua casa é ao fim da estrada. Lá, uma bebida, um conselho, um cumprimento de guerreiros, uma vida a entender... Uma vida a explicar.


É como se os casulos não se tornassem borboletas, é como se a semente não crescesse em árvore, como se o ovo nunca fosse quebrar...


Mas eu vou seguindo por esta noite como se estivesse num sonho. Meus pés, eu sei, podem ficar mais leves, minhas costas suportarão o peso das armas e minha mão esquerda firmará o escudo. Vou fingir que isto é um sonho, que os animais não me assustam, que o lobo não me devorará. Fingirei ser de novo um guerreiro até chegar em casa. Não sou um anjo de força.




Não contarei a ninguém a minha jornada, não falarei a respeito dos gigantes ou dos dragões, nem das luzes, nem da Grande Árvore. Esperarei até encontrar o senhor das terras deste percurso, eu esperarei.


Entre as paredes das montanhas, os desenhos me avisam da guerra, da morte, do sangue, do sacrificio sobre a pedra. As formas sobrepostas das rochas me levam ao cemitério e às caveiras...


Vou fingir que esta estrada é um sonho, pois eu... não sou um anjo de força...

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