sábado, 16 de abril de 2011

Soneto I


  • De todas as escolhas se escolhe

  • Os lábios mais belos e intensos

  • Alma pensa, corpo penso

  • Espírito do ar que se recolhe


  • De nevadas rochas se mira

  • Com olhos plenos de bênçãos

  • Etéreos fazeres adensam

  • Os corpos amantes em ira


  • Seguido à crença em desalinho

  • A espera se finda, descristaliza

  • Insufla-se o peito em dar carinho


  • Em perfumes o beijo imortaliza

  • Livres os braços em dança santa

  • Tanto outrora como agora se encanta.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Onipresença

Sigo linhas e rabiscos, rotas e aviões. Sumo com eles rumo ao que não piso, olhar o que não posso ver, mas estou ali. Caminho por ruas que não ando, sabores de diferentes requintes deitam-se ao meu paladar suavizando o preconceito que minha pele não experimenta. Não, não estou aqui. Estou lá. Ali, logo ali do outro lado. Não tão longe. Com um dedo cubro todo este território, com uma mão o continente some como se um tampão o cobrisse. Nos portais dos tempos jazem 5 dias, nos quais jazo eu ao passear em passos não meus. Eis a minha onipresença. Sigo estradas e ruas, bairros e vilas. Conheço novos tipos, novos feitos, flutuo em passados, sinto cheiros e o perfume do vento gélido que corta meu rosto roubando-me do escasso calor que eu trouxe nas malas. Suspiro. O ímpeto juvenil percorre-me totalmente percolando por onde passa seu benéfico veneno contaminante. Imagino novos mundos e sensações que me cegam sorrindo e sorrio caminhando para eles. Alcançarei até onde meus olhos se perderem e não discernirem vales de montanhas, céus de água, aguias de falcões. Sigo formas e movimentos, luzes e decorações. Perscruto o desconhecido com olhos ingênuos, curiosos. Não estão mais em minha face somente, desceram para minhas mãos e pés. Não mais as fotos, agora miro a tudo e a todos quanto posso com meu próprio corpo. Vejo com as mãos e pés o que antes tocava e percorria somente com os olhos. Eis toda minha humanidade, damasiada humanidade. Sigo as vagas e as ondas, a maré e os navios. Proteção tenho eu, longe do tridente de Netuno, da ira de Poseidon. Aqui cheguei pelo vento, em braços eólicos aportei e neles irei embora. Valha-me esta alegria tão rara. Confundo-me. Não sou o escritor, mas sou quem vive, quem sente, quem come, quem crê. Estou aqui, não lá. O andar, todavia, impacta meus pés, cansa meus calcanhares. O frio queima meus lábios, seus ventos assobiam em minha janela. Meus ouvidos não decifram as falas quer sejam gracejos, quer sejam preconceitos. Não estou lá. Escrevo. Sou outro embutido em um. Quase o mesmo ser andando nos mesmos sapatos. Eis a minha onipresença, eis o meu sentir ainda que estejas longe, estou aí. Não me vês, mas sei que me sentes em um paradoxo de saudade e presença que vai além do corpo. Esta é tua vez, teu tempo e ainda assim me alegra a mim.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Transcendendo...

Deus,
O simplismo com que a grande massa se refere a você me inibe. Parece tão fácil. Simples. Conhecem-te totalmente. Sabem quais são tuas vontades, teus desígnios, teus quereres. Afirmam que você permitiu algumas tragédias e, apesar de discordarem do motivo pelo qual tu, Todo-poderoso, se deliciou em tamanha crueza, isso me deprecia, me rebaixa e me inferioriza.
Afinal, por qual motivo estaria eu tão longe de tal intimidade e conhecimento? Por quais razões não consigo entender a dinâmica dos estados das coisas, dos acontecimentos, das contingências? Onde estive que não poderia estar para perder tal dom? Em qual braço da cruz minha pedra caiu?
Deus,
Apesar de todas as questões, gosto de imaginá-lo.

Imagino-te do meu jeito. Como eu, deves ser quieto, calmo. Deves chorar por dentro para não incomodar aos anjos a fim de nunca entristecê-los e o clima do lugar onde habitas, ao qual nós chamamos céu, não se definhe em notas de baixa músicalidade apenas por um momento de tristeza teu. As festas, os sonidos, os alaridos alegres devem permanecer a qualquer custo, pois as alegrias de outros estão implícitas no bom governo que fazes.
Imagino-te observador.
Sim, creio que você não fica com as mãos gesticulando o tempo inteiro tal qual velho italiano em estado de desespero com os netos. Creio que confia em sua criação excluindo-se daí o ser humano que é tua maior dialética: erro e acerto. Sei que você sabe que pode confiar na dinâmica da natureza que funciona muito bem, fator digno de elogios, eu diria. Nenhum dia até agora falhou em seu nascer. mesmo quando as águas parecem ralas e raras, as plantas e os animais conseguem criar meios de sobreviverem em meio às maiores adversidades, como que por encanto.
Penso que de onde você está, apenas contempla tudo isso.
Por isso não consigo crê-lo como um agente determinador, mas sim construtor e isso em parcerias. O que me entristece é que não consigo vê-lo tão perto para pedir tua parceria com toda a fé, mas deixo esta carta aqui para que, quem sabe, um dia em nossa mútua quietude não nos conheçamos melhor, aprofundemos laços e cresçamos a amizade. Creio que nos será por demais valorosa.
Obrigado

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Um Salmo Latino-americano

Solto pela internet, encontrei esse salmo latino americano, cuja autoria é desconhecida, mas que é belíssimo:

Os pés do mundo hoje percorrem caminhos de asfalto e violência, mas o coração do humilde é mais forte que as armas e bombas.
A paz para a humanidade não virá do exterior, nem será construída com armamento nuclear, nem chegará por acordo dos governos.
Ela está presente no coração do universo em todas as coisas que caminham rumo à paz.
Há de chegar como aurora para este mundo cansado e maltratado; e virá das mãos dos simples, das pessoas humildes, dos pobres do planeta e será anunciada pela boca de rapazes e moças, e ao som da música de jovens corajosos.