sábado, 18 de outubro de 2008

Correspondência de um amigo próximo:




E se, comigo, nada se fizer verdade?

Estou cansado mentalmente.
Mandos e desmandos... não há mudanças ou desmudanças. Estou inerte, infrutífero, inacompanhável.
Tenho uma triste sensação que me engano até aqui e não falo, camarada, com respeito ao que é certo ou errado, mas da minha relação com aquilo que ensina o que é bom ou não. Meu amigo, se eu fosse você eu pararia de ler este texto, afinal de contas você deve estar cansado de ouvir lamúrias e choros de conhecidos teus ou mesmo nas novelas que você assiste religiosamente pela TV, mas se quiser ignorar um bom conselho ouça o que tenho pra falar.

Oxalá eu compreendesse os segredos da minha própria alma, as confusões da minha consciência. Oxalá eu soubesse onde se encontra a chave de minha cadeia, a força para negar as regras em mim programadas. Ah! Quem me dera eu conhecesse o segredo da minha falha, da minha solidão. Meu Deus... Deus...Deus? Deus! Deus, o que será quando puder entender uma fração de quem é você

Minha vida cristã, meus modos cristãos... minha boca sem palavrão, meus pés carolos, minhas mãos bem educadas, meu corpo sem adornos, meu peito sem amigos, sem vinho, sem graça... Para quê? Há finalidade? De que me valerá minha vida no dia da minha morte? Morte? Sim, morte!

Amigo, sinto que minha caminhada pára aqui, sinto que me enganei durante todos estes dias, sinto que eu sou outro e isso não quer dizer que sou outro a partir de agora quando lhe escrevo estas linhas, não! Sempre fui outro, nunca este, mas estou neste, um outro que não eu, que vos fala.

Nunca abandonei o que sinto não ter, antes eu preservei e preservarei minhas falsidades e hipocrisias, minha aparência do dia a dia, pois não sou quem aparento ser e nunca serei outro, aquele outro quem sou.
Assim sigo crente que em nada creio senão em mim mesmo, que a ninguém amo senão meu próprio estômago e que nada conheço senão meus pensamentos.

Continua...